terça-feira, 1 de maio de 2007

O crime compensa

O crime compensa. Não, definitivamente não estou falando dos políticos, eles não cometem crimes, simplesmente sucumbem à tentação. Falo dos outros, dos que vão pra cadeia. Agora há pouco, 11 horas, Praça do Expedicionário. O garotão, vinte e cinco no máximo, bermudão, camisetão, sandália havaiana, sem tatuagens à vista, me aborda: "Amigo, não tenho vergonha, acabo de sair da penitenciária". Minha resposta de sempre e o gestual de sempre; apalpo os bolsos, estou sem nada, companheiro. Veio aquele sorriso, algo cínico: "nada disso, só quero um cigarro". Dei, me ofereci para acender. Ele tinha isqueiro.
Pensava que cigarro se leva à penitenciária. Livre, o ex-detento quer - sem alternativa - outra coisa, recair no crime. Este aqui atualizou o "inteirar a passagem", "vim do interior, tenho que me internar"; assume (ou mente, por isso lembrei dos políticos) que saiu da cadeia. E os burgueses medrosos aqui até se sentem reconfortados, estiveram perto do assalto. Assunto para a família. Assunto para crônica.
De longe vi que a melódia (sim, melódia, tá no Houaiss) continuava com todos os passantes. Pedia aditivos ao meu cigarro?
Só me veio a lembrança do Millôr, velho e sábio Millôr, quando - agora sim - aconselhava aos políticos: "a melhor malandragem é a honesta, porque não tem concorrentes".
Pois é. Ou o garotão leu o Millôr ou os políticos vão ter concorrência.
Deve ser coisa do PCC.
(publ. no blog do Zé Beto)

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