domingo, 13 de maio de 2007

Nissu propriu u santu

Tive que voltar ao blog. Raffaele Maria Distefano acaba de ligar com intimação para visitá-lo em Brienza, sul da Itália. Somos primos distantes, trisavô paterno comum, de quem ele herdou o nome; os bisavôs, Francesco Saverio, meu, veio ao Brasil, Giambattista, o dele, ficou por lá. Os nomes de santo enganam; nissu propriu u santu, como contava a bisnonna Mariangela, no dialeto de raiz siciliana. Raffaele Maria sai do terceiro mandato de sindaco, prefeito, de Brienza, querido por dois terços do paese. Brinco com ele: pudera, metade dos eleitores têm o mesmo sobrenome! Eleito sempre pela DS Democrazia di Sinistra, o legítimo herdeiro do antigo pardidão deles; qui siamo fedeli alle bandiere, me explicava quando o conheci, ainda no primeiro mandato. Quer companhia em viagem a Ragusa, sudeste da Sicília, de onde veio nosso tetravô Luciano. Pra me tentar lembrou que em Ragusa começaram as guerras púnicas, em que Asdrúbal e seu filho Aníbal deram tanto trabalho aos romanos. Sabe que nunca gostei de Júlio César, ditadores me cansam. Aceitei. Só não contei que o que me atrai a Ragusa é o príncipe de Salinas, personagem do Gattopardo. Raffaele tem alergia a ele, como a todos os aristocratas: questi non cambiano mai, me disse uma vez. Mas avisei ao primo: não conte comigo para ajudar em mais uma eleição.

Se...

Justo agora, quando eu pensava em roer a corda, ou descansar até segunda, chovem telefonemas perguntando do Se, do Rudyard Kipling. Uns querendo ler, outros revoltados porque eu disse que era leitura de auto-ajuda. Vai lá, na tradução de Guilherme de Almeida, que consegue ser melhor que o original. Tomei a liberdade de justificar - na acepção informática - a referência aos companheiros, bons e maus. Homenagem do MAX às mães de todos os companheiros.

Se...
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao redor de ti já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para estes no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar — sem que a isto só te atires;
De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores;

Se encontrando a Desgraça e o Triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a estes dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste;
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder, e ao perder, sem nunca dizer nada, Resignado, tornar ao ponto-de-partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Resiste!"

Se és capaz de entre a plebe não te corromperes,
E entre reis não perder a naturalidade;
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade.

E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a Terra com tudo o que há no Mundo.
E o que é muito mais — és um homem, meu filho!