quarta-feira, 6 de junho de 2007

Renan no conselho de ética

Essa de o Senado submeter Renan Calheiros ao conselho de ética remete diretamente à lição do velho, reumático e cínico La Rochefoucauld: "a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude". A virtude é tão forte que mesmo quando não a praticamos devemos fazer de conta que a estamos respeitando - isto é a hipocrisia. O senador Tuma já disse que quer absolver Renan. Se Renan vai ao conselho de ética é só para fazer aquilo que se quis desde o início. Não seria mais prático liqüidar na casca a investigação? Não. É preciso enganar os ingênuos, saciar sua sede formal de justiça, anestesiando-lhes as consciências. De mais a mais, só aloprado deixa vestígio, como Lula reconheceu. Profissional não.

Bingos - a quem interessa proibir

Os anti-bingos que me perdoem, mas sua bronca virou hipocrisia. Argumentam que o bingo é fachada do crime organizado. É só ali que o crime se instala? Não, ele está no bicho, na loteria esportiva, no futebol, está até na política. Vamos proibir tudo? Vicia os velhinhos, estimula o jogo? Ora, ora. Para os velhinhos é lazer, gastam pouco, se distraem, se encontram. Gastam todo o dinheiro? Primeiro, não gastam. Segundo, se gastam, vamos proibir os empréstimos das financeiras para os velhinhos. Estimula o jogo? É este o único jogo que existe? E proibir acaba com o vício? Lembrem da Lei Seca, nos EUA. Quem pensa um pouco além do blá-blá-blá sabe que criminalizar uma ação cria estímulo a ela. Não defendo descriminalizar tudo. Mas sim o que é causa real de abalo social. Criminalizar bicho e bingo interessa aos agentes do Estado - sempre rende um extra. Epidemias de moralismo na maioria das vezes escondem coisas suspeitas.

A ave rompe a casca

Daniela Busarello, que está rompendo a casca, pede o texto exato. Vai em seguida. Antes, a fonte: é de Herman Hesse, no Demian. Boa viagem, boa estada lá fora. E não se perca de mim, não desapareça.
  • A ave rompe a casca. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer, tem que romper um mundo.

Vaquinha de circo

Algum leitor de Campo Mourão pode me confirmar a história? Ouvi hoje cedo, portanto ninguém tinha bebido. A fazendeira desconfiava que o empregado da ordenha estava roubando leite de sua vaquinha predileta. Pôs o filho menor de campana a noite inteira, para conferir. Narra a irmã do moleque, minha amiga Maristela: "era a vaca que bebia o próprio leite". Perguntei inocentemente a Maristela se a vaquinha veio do Cirque du Soleil. Fechou o tempo na academia. Isso de gracinha aprendi vocês sabem com quem. Com ele funciona. Já comigo, perdi a amiga.

Lula é gênio

Lula definitivamente é um animal político, daqueles do topo da cadeia alimentar. Primeiro, não nomeou parentes - e não aceito o argumento de que nem poderia, pois seus parentes não servem para cargos públicos; isso nunca foi critério em nossa sereníssima república; e aquela do filho gênio, bem, isso não conta, filho é filho e o garoto é mesmo um gênio. Segundo, quando Vavá (Genival Inácio), o irmão mais velho, foi apanhado pela P. Federal, Lula elogiou a Justiça, a Polícia, e mais, disse que ele é um entre todos os brasileiros - tem culpa no cartório?, que se explique. Nessa acabou faturando horrores politicamente. É capaz de até ganhar um terceiro mandato.

Dicionário Requião - adições

Mais dois verbetes do Dicionário Requião, que está sendo amealhado pelo MAX.

  • parente incompetente: avaliação de familiares do líder incontrastável por filho de secretário especial sofrendo de interface pública (cf. verbete) . Ex.: Quero também que ele não tenha mais condições de empregar mais nenhum parente incompetente seu (G.Caron).

  • instrumentos de provocação diária: prática desenvolvida na assessoria direta do líder incontrastável, visando estimular a controvérsia e o escracho como instrumentos de aprimoramento do grupo. Ex.: Permanecer em sua equipe será continuar propiciando instrumentos de provocação diária (L.Caron).

Secretários especiais - uma excrescência

O que é um secretário especial? Perdoe, Heron Arzua, mas não é nada. Se for alguma coisa está condenado, porque passa a ser alvo preferencial. A administração pública é permanente, tem ações e necessidades permanentes, que devem ser atendidas por órgãos permanentes. Essas funções especiais ou são para acomodar pessoas ou para atender tarefas que fatalmente entram em choque com as áreas de atividade permanente. Lembro o caso do secretário-especial-da-reforma-do-Palácio (situação tão estranha que virou uma locução substantiva): saiu o secretário e a tarefa foi para quem de direito, o DECOM.

Heron Arzua - o ethos e o pathos

Heron deixou a secretaria da Fazenda e agora é secretário especial. Seguiu o ethos, a cultura e o sistema Roberto Requião: foi acomodado em outro cargo – o governador não faz opções entre auxiliares. Nesse outro, espero que não viva o pathos, o destino e a sorte do sistema Requião, que atinge os secretários especiais. Ele só tem filhas. Ao que se sabe, cordatas.

Mobilização na Sanepar

O que deu na reunião dos sindicatos com a Sanepar? Quem negociou desta vez? - H. Calefe ou C. Zilioto? Conheci os líderes dos sindicatos. Gente eficiente e dedicada, fiel aos trabalhadores. Acompanhava de longe as negociações, que eram assunto da diretoria financeira, coisa da época. Sei que os salários são baixos, bem abaixo do mercado, cujo termo de comparação é a Copel, e que nessa hora deixa de ser (é três vezes maior, etc). A grande tarefa que lá cumpri, que me dá orgulho, é ter redigido e aprovado - com voto de louvor - o regulamento de pessoal, que nunca existiu. Eles tinham uma tabela salarial, sem qualquer critério que não o do QPQ quem promove quem: o diretor de plantão podia, numa canetada, dar até 25% para quem quisesse. Distorções tamanhas, que o empregado da mesa ao lado, na mesma função, mesmo tempo de serviço, acabava ganhando muito, muito mais. E como esse empregado era aquele que tinha aquele algo mais, mudava governo, mudava diretoria, muda Requião para Lerner, e vice-versa, ele sempre levava mais um vinte e cinquinho.

Salários estratégicos na Sanepar

Os salários são baixos na Sanepar. Com o regulamento de pessoal acabou a farra dos 25%. Promoções com avaliação de desempenho, critérios de tempo de serviço, níveis e referências salariais. Tudo amarrado. Um diretor que ainda está lá quando percebeu que o regulamento tinha sido - como manda a lei - registrado no Ministério do Trabalho teve um lampejo de inteligência (ele só é esperto) e me cobrou: "Pra mudar tem que mandar de novo ao Ministério?". Os sindicalistas, poucos, fizeram ressalvas. Então o regulamento é bom. É esse o segredo: controle. Não tem mais apadrinhamento. Nem vou falar quanto ganha, por exemplo, um advogado ou um engenheiro da Sanepar. A gente começa a pensar. Mas tem gente que ganha bem, muito bem. São poucos, muito poucos. São os salários estratégicos. Próxima nota.

Os grandes salários da Sanepar

  • Tem dois tipos: os dos estratégicos e dos assessores. Os estratégicos, usando estratégia, subiram tanto que não puderam ser enquadrados nos níveis e referências do regulamento de pessoal. Ficaram fora, em dormência, esperando os salários dos saneparianos mortais chegarem perto. Nunca vai acontecer. São uns vinte altos funcionários, os que foram subindo, subindo. A gozação na empresa é que são estratosféricos, não estratégicos. O maior salário entre eles, na época - ainda deve ser - era o de José Roberto Zen, o último gerente do glorioso Paranasan. A justificativa para os altos salários: sem esses funcionários a empresa pára. Conta outra, ela está devagar, quase. Uma coisa é certa. Entra e sai governo, eles estão lá, men for all seasons, revezando-se em gerências, altas assessorias, até diretorias.
  • Os assessores. Dizem que é gente boa, conheço poucos. São tantos que nem tem lugar para todos. Confiram a diretoria do meio-ambiente, mais de vinte pelos meus cálculos. Bons salários, de R$ 4 até 9 mil. Podem ser funcionários de carreira, alguns até são. A maioria vem de fora, naquele expediente ilegal de serem nomeados para cargos na Casa Civil e - como não tem cadeiras nem mesas para eles lá - chegam à Sanepar em velocidade da luz. Vou falar nisso no próximo capítulo do Tráfico de funcionários. Para eles valem o QI e o RH, a indicação e o DNA; ou ambos. Tive que engolir três. Dois pude expelir, outro não. Quando o governador, semana passada, surtou e mandou fazerem cortes de despesas para não aumentar a tarifa, tive um momento de meia doidice e pensei: vão começar pelos assessores. Duvido. Talvez (re)comecem as terceirizações. Sei que até estão pensando. Vou combater daqui, pois terceirizar na Sanepar é sinônimo de custo acrescido, prejuízo pelo trabalho sem controle. E aquilo, sabem?