sexta-feira, 8 de junho de 2007

Wuppelander, deixe os GLBT em paz

(O Globo, online, hoje) A prefeitura e a secretaria de saúde municipal de S. Paulo estrilaram com a organização da 11a. Parada GLBT - para quem não sabe (ou finge não saber): gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Porque o pessoal distribuiu panfletos, com os logos oficiais, recomendando aos trêfegos participantes da alegre parada cuidados como "compartilhe a droga, mas não o material a ser usado", "faça uma piteira de papel se for rolar um baseado" e esta, que é um acinte à moral e aos bons costumes, "para cheirar, prefira um canudo individual a notas de dinheiro". Além do governo, respeitáveis membros das classes conversadoras, como o prof. David "Próstata" Uip e o delegado Wuppelander Ferreira Neto, titular da Delegacia de Narcóticos criticaram os panfletos.
Igualzinho a história do francês que só sossegou quando queimou o sofá onde madame cometeu adultério (depois disso, o rendez vous só acontecia em hotel). Eta hipocrisia. Deviam dar parabéns aos organizadores da parada. Ou os catões paulistas pensam que sem o aviso os rapazes e as raparigas alegres deixariam de usar drogas? Proibição ou fazer de conta não vai impedir. O certo é tentar indicar cuidado, para reduzir riscos.
Tinham mesmo é que proibir que alguém fosse registrado como Wuppelander. E Neto. Para o nome e para a reincidência não há canudinho nem piteira que resolvam. É vício entranhado no DNA da família Ferreira.

Romanelli, aposte no camelo

Deputado Romanelli, jogue tudo no 8. Hoje é dia 8, e oito é o número do camelo.
É que está chegando na Assembléia o projeto da lei das licitações, que o governo está (re)apresentando. Histórinha rápida: um dia Requião acordou com a sarça ardente, decidiu acabar com a roubalheira. Chamou Sergio Botto e exigiu, como o xará com Moisés, as tábuas da lei de licitações. Botto - procurador geral do Estado - chamou Lilian Didoné, assessora inteligente e preparada, e Lilian ficou um ano trabalhando. Saiu um anteprojeto, redondinho, limpo, bem escrito, no estado da arte e das necessidades do governador. Na Casa Civil passou por uma comissão revisora. Ali perto d'Ele, a comissão entendeu que Requião queria um cavalo novo, não uma olhadinha no trabalho de Lilian. A comissão de Requião fez da lei da Lilian o que a comissão de seu xará fez do cavalo da Criação: produziu um camelo. A Assembléia enfiou mais duas corcovas no camelo. Não dava para montar no camelo, que nem folego tinha para enfrentar as empreiteiras nômades de nossos desertos estatais. Romanelli, jogue no camelo. Mas faça um belo cavalo na Assembléia.

Na bunda não, Requião!

É o outro Requião, o irmão. Maurício, secretário da Educação.
O MAX instala hoje campanha para processá-lo por improbidade. Não é pela compra dos aparelhos de tv; naquilo Maurício está limpo. Mas Maurício tem que ser tirado da secretaria por improbidade pedagógica. Onde já se viu um educador indicar "palmadas na bunda"? Está certo que esse menino, o Stephanes Jr., até merece, pois debandou da manada pemedebista da Assembléia. Logo Maurício, educador de tantos méritos. Agora, se for para surrar os deputados com cinta, conte com o MAX, secretário. Até suspendemos a campanha.

Badalo de bispo

Vou ambientar em Olinda, Pernambuco.
O santo dom Helder Câmara chega à residência episcopal, viagem de carro longa e cansativa. À espera, padres e freiras auxiliares. Entre eles Gabriel, leigo, papa-hóstia e adulador, gordo e afeminado. Ao ver dom Helder nosso beato puxa-saco atropela os religiosos, atraca no arcebispo, todo doçura e desvelos: "Vossa Excelência Reverendíssima está cansada?" Dom Helder, baixinho, aqueles olhos sempre vivos e sagazes, a inseparável inteligência, com ironia finíssima repica na bucha: "Cansada, Gabriel? Estou morta!". Os atributos e a peculiar flexão de gênero não impediram que Gabriel seguisse rápida e vitoriosa carreira política.

Campanha é campanha, governo é governo

O inferno que Roberto Requião vem vivendo há cinco anos inspira reflexões. Lula não demite, Requião não demite. Lerner, então, nem conhece o verbo – para informação dele: é transitivo direto e reflexivo. Já o velho Ney Braga demitia com muita competência. Formação militar? Taí um tema para estudo psicológico, que não é a praia do MAX. Olhando daqui de fora passam idéias: 1) não demite porque deve favores na campanha e quer usar na seguinte? 2) é cúmplice em alguma jogada? - e não estou falando dos três aí de cima. Mas que não demitir sai caro, isso sai. Caro para o chefe, mais caro ainda para nós, cidadãos e contribuintes. O argumento da lealdade não cola. Não demitir quando o auxiliar apronta, é incompetente, omisso, vadio, é confundir campanha com governo. Na campanha, o compromisso é com a vitória. Acabou a campanha, acabou o compromisso. No governo, o compromisso é com o interesse público e aquela coisa imbecil e inanimada também conhecida como povo.

Povo, população & quejandos

Um post puxa outro. Quando um político eleito fala em povo estamos perdidos. Lá no inconsciente ele vê aquela massa sem forma, para ser usada e manipulada. Se fala em população, é o cão. Para ele somos mercadoria. Ele nos vende como venderia sabão, se estivesse em outro ramo de comércio. Tem o que nos chama de cidadãos. É inteligente, sabe das coisas, está sempre com um olho no Tesouro e outro no Ministério Público. Este é aceitável, pois não dá para governar com irmãs de caridade. Em seguida os metidos a literatos, como José Sarney, com aquela patacoada de "brasileiros e brasileiras". Quer dar uma de estadista francês, mas fica evidente o opaco verniz das leituras superficiais. O literato não sabe que basta dizer "brasileiros", substantivo que neste uso dispensa a variação de gênero. Faltou algum? – Ah, sim, o que nos chama de "meus irmãos". Esqueçam. Este só pensa mesmo é nos irmãos dele. Quejandos? – Só para fechar: o saboroso substantivo que vem do latim quid generu – qual espécie?, qual tipo?