segunda-feira, 11 de junho de 2007

A pracinha do Batel

Curitiba é uma cidade tão resolvida que o povo fica à toda na vida - e se ocupa da Pracinha do Batel. Uma pracinha que só serve a quem vive no edifício Napoleão Sbravati. Não temos esgoto a céu aberto, não temos favelas, não temos cinturão de subdesenvolvimento. Nosso maior e inadiável problema é a pracinha. Problema real é o Batel, que está intransitável, e vai ficar pior com o shopping. Se quiserem o shopping, a pracinha vai ter que ceder. Problema é o descompromisso dos empreendedores com a cidade que lhes deu fortuna. Problema são os administradores, prefeitos e vereadores, que não estão nem aí para a qualidade da cidade. Problema somos nós, que só vemos a pracinha - e caímos na manipulação de políticos.

Sanepar - a greve e o panfleto anônimo

Ameaça de greve na Sanepar desde a meia-noite de hoje. Não sabemos se acontecerá. Se acontecer, é ruim para a população. As reivindicações apresentadas pelos sindicatos foram respondidas em panfleto anônimo. O anonimato já virou segredo de Polichinelo - todo mundo sabe de onde veio. Poupo-lhes do texto do panfleto: uma folha A-4 inteira, compactada em espaço 1, fonte courier 1. Gênio, quem concebeu: na linguagem - de advogado, atualizada na ordem direta pelo revisor-comunicador; no texto - só acessível aos bem remunerados, que não estão nem aí para a greve; no conteúdo - que falha na demonstração do essencial.
Alguns pontos, que destaquei. E assino.
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1. O cachimbo, de tanto usar, deixa boca torta. A ameaça de greve na Sanepar mereceu também um panfleto anônimo. Muito bem escrito, até bons argumentos, embora insuficientes, podia ter assinatura. Poderia até desmobilizar os trabalhadores, mas descamba no escracho aos dirigentes sindicais. De novo, o velho cachimbo, o incorrigível método, o assassinato moral.
    • Mas não explicam aos empregados o que fizeram no período da privatização. Por que se omitiram e abandonaram os empregados na sua luta mais importante que é em torno da reposição de seus salários, além de abrirem mão de outras conquistas dos trabalhadores. Sem considerar a omissão na questão da privatização, na terceirização, no abandono da maioria dos sistemas considerados não-lucrativos e assim por diante.
Ajuda a negociação, que tem que ser permanente, serena, durante a crise entre empregador e empregados? Algum trabalhador se impressiona com o descrédito de seus líderes?
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2. O sofisma, o falso argumento: a conta é do governo anterior - o anterior ao anterior. E daí, isso lá interessa aos trabalhadores? Querem mandar a conta para Jaime Lerner, ou para a Dominó? Bobagem. Os sindicatos negociam com a empresa, que é o seu empregador.
  • De quem é essa conta? Você, especialmente você que entrou na empresa nos últimos cinco anos, sabe de onde vem os 20% que estão sendo exigidos de reposição salarial pelos sindicatos?
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3. Um saboroso ato-falho. A atual gestão não zerou nada. Perdão, está zerando sua credibilidade. Teria sido na gestão anterior, afinal estamos no segundo tempo Requião. Mas a "atual gestão" não demonstrou isso até agora. Nem o panfletista anônimo.
  • Não é estranho um número tão grande se na atual gestão a diretoria sempre zerou as perdas inflacionárias nos acordos coletivos?

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4. A língua é o chicote da bunda. O panfletista anônimo cobra dos dirigentes sindicais - é repetir:

  • Mas não explicam aos empregados o que fizeram no período da privatização.

Sobreviveram, ora. Tentaram o que foi possível. Aliás, a pergunta também pode ser feita a alguns diretores da Sanepar: o que fizeram no período da privatização? - Quem não sabe? No "período da privatização" presidente atual montou empresa com outro ex-presidente e outro diretor da Sanepar para disputar "sistemas lucrativos", como o de Ponta Grossa, por exemplo. Então também vamos bater nele por causa disso?

U Baldinho do Amaral

As crianças brincavam na areia e a tia do maternal propôs uma atividade criativa: alguma coisa sobre a rua onde moravam. O moleque estava sem saco, mas não podia perder o desafio, nem desagradar a tia. Matou na hora, assim como Dinelson, do Paraná Clube, seu herói: passou a mão na caneta hidrográfica e escreveu bem grande no balde de areia – U Baldinho do Amaral. O moleque vai longe.

Dicionário Requião para leigos

Os leitores sugerem que o título "Requião para leigos" terá apelo editorial. Os novos verbetes do Dicionário.
júnior: deputado eleito com o prestígio do pai político, reagindo à indiferença do líder supremo. Ex.: v. anais da Assembléia Legislativa.
nepotismo: afirmação caluniosa da oposição ressentida ao processo de seleção pelo líder supremo dos melhores e mais capazes integrantes de seu governo. Ex.: v. Diário Oficial do Estado.
nepotismo esclarecido: variante da expressão "despotismo esclarecido".
parente: atributo dos membros do grupo, caracterizado pela excepcional aptidão para o cargo público. Ex.: v. Diário Oficial do Estado.