terça-feira, 26 de junho de 2007

Elisabeth Bonamigo. Duquesa austro-brasileira

Devemos muito a uma senhora austríaca: a Imperatriz Leopoldina, hoje esquecida, todos pensam que é a escola de samba. Nada disso: foi mulher daquele maluco adúltero, dom Pedro I, mãe do Pedro II, que deixou menino no Brasil. Devemos homenagens a outra senhora austríaca, que mora ali no Pilarzinho: dona Elisabeth Bonamigo. Veio adulta de sua Viena natal; bem casada com o procurador Vanderlei Bonamigo, com ele gerou duas lindas e brilhantes filhas. Dona Elisabeth tem porte de duquesa Habsburgo e energia do Príncipe Metternich – aquele que passou a perna em Napoleão, o outro, o Bonaparte. Passou um mês na Áustria com Vanderlei e quase derrubou o governo. No aeroporto, o compatriota não vinha vedar suas malas. No Brasil, "o serviço é 24 horas", rosnou dona Elisabeth naquele alemão de Strauss. Foram à Ópera, ela e Vanderlei. Paramentados, traje quase de gala, e do lado o vienense fedido, sandálias-de-dedo (a falta que o Bento Azambuja fez), teatro sem ar condicionado. Suando canecos de chope, lencinho no nariz, dona Elisabeth começou o discurso: "no Brasil, teatro é diferente". O fedido pirulitou. Pior foi com a mulher do mercadinho, onde ela e Vanderlei todo santo dia vienense compravam garrafas de água. Um mês depois a dona do mercado diz a Elisabeth que não precisava pagar o preço do casco (até hoje não sei porque se fala assim); bastava trazer as garrafas vazias. Pra quê. Dona Elisabeth desembainha o sabre: "só me avisa agora? No Brasil a gente recicla as garrafas".
Gesundheit, Frau Bonamigo. Wir lieben Ihnen!

O empresário Ludovico e a "prostituta" Sirlei

Anotem nomes e qualificações: Ludovico Ramalho Bruno, empresário naval, pai de Rubens Arruda, um dos universitários que no Rio de Janeiro espancaram a cidadã, casada, mãe e empregada doméstica Sirlei Dias de Carvalho Pinto. Assim, sem nada, só de pândega. Acharam que a moça era prostituta. O pai entregou o esconderijo do filho, mas reclamou da prisão. Disse Ludovico (Folha de S. Paulo, edição de hoje, Cotidiano):
Foi uma coisa feia que eles fizeram? Foi. Não justifica o que fizeram. Mas prender, botar preso, juntar eles com outros bandidos...Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses? Existem crimes piores.

Pois é, seu Ludovico. Há diferença entre seu filho, os amigos e os "outros bandidos"? – Existe, sim, os "outros bandidos" até mostram caráter. O estudo? – Por favor, estudo não faz o caráter de ninguém. Se fizesse, os políticos teriam lugarzinho reservado no céu, autenticado pelo TRE. O senhor está é com medo que os "outros bandidos" transformem seu filho e os amigos em prostitutas – e pior, nem paguem. "Crimes piores"? – Sim, existem, seu Ludovico. Se os moleques batessem na sua mulher e na sua filha seria bem pior.
E parabéns pelo ato-falho: "outros bandidos" diz tudo.

Banco Regional de Brasília - o Banestado deles

José Roberto Arruda (DEM-DF), governador do Distrito Federal, fala em privatizar o Banco Regional de Brasília, o banestado deles. Só agora, quando explodiu o saque de R$ 2 milhões feito pelo presidente do banco em favor de Nenê Constantino, presidente da Gol – apenas para aquela operação corriqueira de emprestar uns trocados para Joaquim Roriz, então governador do DF. Se abrissem as caixas – o termo correto é impublicável – dessas Pandoras...
Não ia acontecer nada. Nunca acontece.

Pizzaria Rebouças - Paraná são?

Essa é de cabo-de-esquadra, como na piada portuguesa, do militar que dá tiros sem definir o alvo. O conselho de administração da Sanepar decidiu ontem mandar para o Ministério Público o relatório da sindicância sobre as irregularidades do Paranasan. Aquela do post de ontem, já duvidando do resultado. Não deu outra. Vamos por partes.

  1. O relatório devia ficar pronto ali por 16 de janeiro. Prazo dado pelo presidente anterior do conselho, Sergio Botto. Saiu ontem, seis meses depois.

  2. Não foi lido, o dito relatório. Vai ser discutido em 9 de julho próximo, está nos jornais de hoje. Por que? – Receio de vazamento? Estranho, muito estranho.

  3. Mas o presidente do conselho foi severo, muito severo. Falou das irregularidades, coisas de arrepiar. Isso vazou.

  4. Para que serve uma investigação, ou procedimento administrativo? – Vamos usar termo técnico, afinal o presidente do conselho é um grande professor de direito administrativo. A investigação, perdão, o procedimento, serve para (1) saber com segurança o que aconteceu e (2) definir encaminhamentos, que são dois numa situação dessas: (a) cobrar os prejuízos e (b) punir os responsáveis.

  5. O que aconteceu? – Um tiro fora do alvo, coisa de cabo-de-esquadra. O conselho mandou para o Ministério Público. As justificativas: (1) o Ministério Público está bem adiantado nas investigações da Sanepar e (2) se as punições fossem aplicadas, os altos funcionários investigados iriam revertê-las na Justiça do Trabalho.

  6. Justificativa pífia 1. O Ministério Público não tem qualquer investigação "adiantada" sobre a Sanepar. A promotoria do patrimônio público, que cuida disso, não tem gente, não tem técnicos e tem serviço demais, não dá conta de tudo. Dou exemplo: uma investigação da Sanepar, de fatos de 1992 (superfaturamento na gerência de Maringá) terminou em 1995. Sabem quando o MP entrou com a ação para punir e cobrar? – Em 2006. Assim, a investigação do Paranasan previsivelmente vai chegar na Justiça em 14 anos. (E não é culpa do MP. É que ele hoje é a salvação da lavoura e a desculpa para fugir da responsabilidade; vide caso Renan Calheiros).

  7. Justificativa pífia 2 . Os funcionários investigados podem reverter as punições na Justiça do Trabalho. Claro que podem, e daí? – Como diz o presidente do conselho quando quer desmontar um argumento jurídico, "até meus alunos do terceiro ano sabem disso". Não estou dizendo que o presidente é despreparado. Ao contrário, ele é inteligentíssimo, preparadíssimo. Qualquer punição do empregador ao empregado pode ser levada para a Justiça do Trabalho – aliás, está na Constituição. Se esperarmos a ação do Ministério Público, no andar da carruagem lá por 2020, os funcionários estarão aposentados – e queira Deus com saúde e patrimônio. Mas "até meus alunos do quarto ano" (lecionei direito do trabalho) sabem que não havendo imediatidade entre a falta do funcionário e a punição do empregador ocorre o perdão tácito. Numa empresa do Estado, num caso destes, importa mais o exemplo que o presumível, eventual, remoto - e esfarrapado - prejuízo.

  8. Justificativa pífia 3. Então os advogados da Sanepar são uns bananas, incompetentes, contaminados pelo espírito-de-corpo: vão perder os processos. Vai dar grande indenização. Eles têm medo de pagar mais uma, como aquela do presidente Ceneviva, despedido no governo Lerner, que levantou mais de um milhão. E hoje está na alta assessoria de Stênio Sales, o Jacob. Mas dá para terceirizar o atendimento dos processos dos funcionários, pagando R$ 70 mil mensais para um escritório externo – era assim antes de Sergio Botto detonar o contrato. E manter todos os advogados internos – que hoje fazem o mesmo serviço do escritório externo; e que estavam lá o tempo todo.

Pizzaria Rebouças - e o pizzaiolo?

Não leram o relatório. É secreto. Pelo jeito, cabeludo. Mandaram para o MP. Neca de punição. Em 2020 nós acertamos as contas. Quem era o responsável pelo Paranasan, aquela gerência sanepariana das irregularidades e da investigação interna? – O presidente da estatal, Stênio Sales Jacob. O Paranasan, a Comunicação Social, a Auditoria Interna – a que fez o relatório secreto – são áreas de sua supervisão direta, suas províncias naquele imenso condomínio chamado Sanepar.
O relatório não disse nada sobre o presidente? Então só o promotor Odoné Serrano Júnior vai saber? E o princípio da transparência, que se ensina no terceiro ano do curso de Direito?

Sanepar - dissídio ou descaso?

Já sabemos: os trabalhadores fora, os diretores, gerentes e assessores dentro da sala do Governador. Não para a negociação, vamos ao dissídio, o governador bateu o martelo. Convencido de quê, por quem? – O governador, como sempre, escutou o sujeito, o predicado, e na hora dos complementos parou de ouvir, tinha opinião formada. Posso esclarecer?

O que aconteceu e frustrou a negociação com os trabalhadores? – Disputa de poder, de egos na empresa. As negociações com os trabalhadores, lá no primeiro governo, eram conduzidas pelo diretor financeiro, velho aparatchik requianista. Fui testemunha: sem jeito para tratar com sindicalistas. Não vou fuxicar repetindo os adjetivos. Todos conhecem, eram aqueles de sempre.

A leva de derrotados trouxe os deputados, entre eles Natálio Stica, sindicalista petista et pour cause dono da ciência e do coração dos trabalhadores. Greve é coisa de PT. Greve na Sanepar, chama o diretor Stica, que alegremente assume a negociação. Como diretor comercial. Sem problema, antes era o financeiro. Não é questão de semântica, nem solução. É ocasião e não reeleição.

Stica começou bem. Detonou a primeira proposta, aquela que dava aos trabalhadores o que a diretoria havia aprovado para si mesma. Veio uma segunda, aquela de dar os 3% mais R$ 50 para pagar duas cervejas. Nessa Stica assumiu o ônus. Nada. Greve e dissídio. Vem a terceira, de sabor Requião-velho-de-guerra, aquele da prefeitura e do primeiro governo, o saudoso líder dos anos 90: a inversão da pirâmide, mais para os que ganham menos, menos para os que ganham mais.

Neste momento o esgoto foi pro brejo. A gerentada, a assessorada, a parentada bem postada (na Sanepar tem dinastias familiares) estrilou. Naquelas assembléias de sindicalistas sem traquejo, cevados nas estatais, os bem postos derrubaram a proposta. Não dá para quebrar a hierarquia, que nem no Exército. Onde se viu soldado ganhar mais que coronel? Quem estimulou essa gente? – Releiam o primeiro, o segundo e o terceiro parágrafos.

Desculpem o exibicionismo, mas explicar só em alemão: schadenfreude – o prazer de ver a desgraça do outro. Que outro? – Resposta no terceiro e quarto parágrafos. Como sempre existe um vilão, é preciso ter um vilão. Quem foi eleito vilão, denunciado em baixo profundo – e não pelo governador, que é um barítono dramático? – O vilão é o leiturista, o carinha que lê a conta do medidor, que conversa com o cliente-cidadão, que leva para a Sanepar a visão das ruas. Que ganha pouco, uma merreca, comparado aos assessores, aos gerentes, aos diretores. O leiturista, que voltou para a empresa, corre o risco de ser novamente substituído pela empresa terceirizada, uma empreiteira qualquer, sonho dourado da corporação.