terça-feira, 26 de junho de 2007

Sanepar - dissídio ou descaso?

Já sabemos: os trabalhadores fora, os diretores, gerentes e assessores dentro da sala do Governador. Não para a negociação, vamos ao dissídio, o governador bateu o martelo. Convencido de quê, por quem? – O governador, como sempre, escutou o sujeito, o predicado, e na hora dos complementos parou de ouvir, tinha opinião formada. Posso esclarecer?

O que aconteceu e frustrou a negociação com os trabalhadores? – Disputa de poder, de egos na empresa. As negociações com os trabalhadores, lá no primeiro governo, eram conduzidas pelo diretor financeiro, velho aparatchik requianista. Fui testemunha: sem jeito para tratar com sindicalistas. Não vou fuxicar repetindo os adjetivos. Todos conhecem, eram aqueles de sempre.

A leva de derrotados trouxe os deputados, entre eles Natálio Stica, sindicalista petista et pour cause dono da ciência e do coração dos trabalhadores. Greve é coisa de PT. Greve na Sanepar, chama o diretor Stica, que alegremente assume a negociação. Como diretor comercial. Sem problema, antes era o financeiro. Não é questão de semântica, nem solução. É ocasião e não reeleição.

Stica começou bem. Detonou a primeira proposta, aquela que dava aos trabalhadores o que a diretoria havia aprovado para si mesma. Veio uma segunda, aquela de dar os 3% mais R$ 50 para pagar duas cervejas. Nessa Stica assumiu o ônus. Nada. Greve e dissídio. Vem a terceira, de sabor Requião-velho-de-guerra, aquele da prefeitura e do primeiro governo, o saudoso líder dos anos 90: a inversão da pirâmide, mais para os que ganham menos, menos para os que ganham mais.

Neste momento o esgoto foi pro brejo. A gerentada, a assessorada, a parentada bem postada (na Sanepar tem dinastias familiares) estrilou. Naquelas assembléias de sindicalistas sem traquejo, cevados nas estatais, os bem postos derrubaram a proposta. Não dá para quebrar a hierarquia, que nem no Exército. Onde se viu soldado ganhar mais que coronel? Quem estimulou essa gente? – Releiam o primeiro, o segundo e o terceiro parágrafos.

Desculpem o exibicionismo, mas explicar só em alemão: schadenfreude – o prazer de ver a desgraça do outro. Que outro? – Resposta no terceiro e quarto parágrafos. Como sempre existe um vilão, é preciso ter um vilão. Quem foi eleito vilão, denunciado em baixo profundo – e não pelo governador, que é um barítono dramático? – O vilão é o leiturista, o carinha que lê a conta do medidor, que conversa com o cliente-cidadão, que leva para a Sanepar a visão das ruas. Que ganha pouco, uma merreca, comparado aos assessores, aos gerentes, aos diretores. O leiturista, que voltou para a empresa, corre o risco de ser novamente substituído pela empresa terceirizada, uma empreiteira qualquer, sonho dourado da corporação.

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