terça-feira, 1 de maio de 2007

Na trattoria do Cláudio Couto

Não é comercial; é justiça. Anote o nome: Cláudio Couto. Gordo, sorridente, atencioso, tem aquela congeniality dos ingleses. Não, não pode ser curitibano. E não é, é carioca. Demorei para me aventurar a conhecê-lo, pois ele inventou de dar a seu restaurante o linguisticamente ofensivo: Atrazzione d'Italy. Assim mesmo, com um "t" a menos e um "z" a mais; além dessa barbaridade de acrescentar um apóstrofo português a um substantivo inglês. O cardápio faria Dante Alighieri fugir daquela falsa tumba em Florença, tanto nele se massacra o italiano. Teve sócios, hoje trabalha só, com um ajudante e um garçom. Acertou no gênero: é trattoria; seis mesas, separadas por parede de vidro que permite assistir o virtuoso na cozinha. O manjericão é plantado no canteiro da rua. O Cláudio me jura que não tem xixi de cachorro. Se tem, não faz diferença, pois este carioca atrevido, ignaro da Divina Comédia, cozinha divinamente. Cardápio rico, italiano fusion, como diria, esnobe, o Fabiano Dalabona, que sabe tudo de comida e cultura italianas. Dou só duas dicas: o filetto di manzo alla polenta, em que ele transforma aquela pasta em algo espiritual, e a carne, quando ao ponto e túrpida do molho de mostarda com funghi, nos levam literalmente ao êxtase - da última vez não resisti e beijei-lhe as mãos. Indispensável - como diria Vinícius, pois comida e mulher é semântica e oportunidade - a hipótese da salada do Cláudio: variada, folhas tenras, tempero essencial e perfeito, e como gordo é sempre exagerado ele ainda nos brinda nela com tiras de carpaccio. Não dou endereço, horário e preços. Seria comercial. Avisei: é justiça.
(publ. no blog do Zé Beto, J. do Estado)

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