sexta-feira, 18 de maio de 2007

Redação própria

A postagem sobre o risco de morte quase me pôs sob risco de vida. Primeiro foi um ex-ombudsman de jornal a me passar uma descompostura exemplar. Que aceitei com resignação. Depois veio o telefonema internacional. André Lara Resende, um dos pais de plano econômico brasileiro, hoje refestelado em sua quinta na Serra da Estrela, Portugal, onde contempla seus cavalos e dá polimento nas jabiracas. Diz que a história passou-se com o pai, não com o Cony. Está carregado de razão. É o meu problema de afasia linguística, agravado pela dislexia. Então conto a história. Oto Lara Resende escrevia suas crônicas na hora, sempre ao chegar na redação do jornal. Fazia isso em máquina de escrever, de uma vez só, sem erros de datilografia (digitação para os mais jovens) e sem revisão. O texto saía perfeito, sem falhas. Sempre tinha ao lado aquele contínuo, esperando para levar o texto à gráfica. Impressionado com a rapidez do Oto no escrever e datilografar, um dia o contínuo não se agüenta e sai-se com esta: "Dr. Oto, o senhor tem redação própria?" O contínuo sem querer virou o herói anônimo da lenda Oto Lara Resende, pois perpetrou um duplo sentido genial: Oto escrevendo sem precisar de qualquer apoio da redação do jornal, e aplicando a ele aquele clássico anúncio de emprego que exigia dos candidatos "redação própria".

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