quinta-feira, 24 de maio de 2007

Preto, pobre e puta. E os "outros presos"

Nobre colega doutor Alberto Zacharias Toron
Confesso-me aturdido ao ler declarações de Vossa Excelência a prestigioso matutino paulistano. No relevante múnus de conselheiro federal de nossa Ordem dos Advogados, Vossa Excelência imputa à Justiça e à Polícia Federal prática de arbitrariedade no conduzir manumilitari os cidadãos submetidos a prisão temporária na mais recente operação, acoimada de Navalha. Datavênia, permita-me discordar quando o nobre colega afirma: "o que se fazia antes contra preto, pobre e puta (
sic) é feito com outros presos. E há quem aplauda". Confesso-lhe que de minha parte, nem tanto como advogado de província, todavia como cidadão indignado, não aplaudo, mas sinto uma ponta de contentamento. Tenho para comigo que tratar os "outros presos" da mesma forma que aquelas três outras categorias – permita-me não usar o expletivo para as mulheres-da-vida – é aplicar democraticamente a lei. Ouso ponderar ao nobre colega que as instituições devem dispensar isonômico tratamento àquelas quatro categorias, e não privilegiar os "outros presos". Datamaximavênia, vejo-me obrigado a obtemperar que Vossa Excelência descortina para com os "outros presos" um desvelo que, salvo engano ou desatenção meus, não obsequia às "putas". E de igual sorte para com os pretos e os pobres. Invoco-lhe aqui e agora a memória de nosso patrono maior, o inconsútil Ruy Barbosa, Águia de Haia e campeão pioneiro das liberdades públicas, que na sua clássica elocução lembrava: "de tanto ver triunfar as nulidades, sinto vergonha de ser honesto".
Renovo-lhe, à ensancha, os protestos de minha mais elevada estima e distinta consideração.

PS: os "outros presos" acaso seriam "os corruptos"?
PPS: como Ruy já se foi, dei-me aqui ao deleite de neologizar nosso latinório forense.

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